O sol está baixo e a luz é intensa. Não consigo distinguir com clareza quem passa, vejo somente sombras que deambulam. Algumas com um ar atarefado, outras exibem uma certa calma. 
Quem são? Para onde vão? O que fazem ali? O que é que eu próprio faço ali?
A sua identidade é algo completamente desconhecido para mim. Não apenas por se tratar de pessoas anónimas, mas também porque, envoltas em jogos de sombras, não sou capaz de as observar com pormenor. É a construção quase orquestrada de uma cena enigmática. Sou apenas capaz de constatar que, naquele instante, partilhamos a mesma dinâmica espacial: a rua em que passamos. Será apenas isso que nos aproxima? Existe também a possibilidade de que os seus pensamentos sejam igualmente assoberbados por questões acerca dos demais. Acerca de mim, talvez.
As horas seguem, e as sombras, como que troçando de nós, intensificam-se. 

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